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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dirce Migliaccio: o ser humano que encheu de vida a boneca de pano.



A gente cresce, embrutece, mas, quem viu Dirce Migliaccio como Emília, não esquece os trejeitos que personificaram a boneca como um ser falante e encante.
Nesse dia que encerra as aparições da atriz, lembro da senhora falante e encantante com quem encontrei numa tarde de 1999. Não foi um encontro casual, mas profissional. Também não foi um encontro de atriz para atriz, como eu sonhava viver nesta época em que gastava minhas horas, e só gastava, com o teatro. A possibilidade de ganhar alguma grana no teatro me fez aceitar substituir a administradora da peça “Os ratos de 2030”, escrita por Flávio Migliaccio e encenada no Centro Cultural dos Correios. Foi lá, numa tarde de ensaio, que conheci a Dirce e reconheci o astral da Emília das tardes da infância.
Integrante de uma geração cujo cachê não foi proporcional à doação a arte brasileira, a senhora atriz era um pedaço espivitado de gente. Fui apresentada a uma senhora muito zen, afetuosa e nada afetada. Esse tecido maleável da pessoa Dirce me deixou à vontade para declarar o quanto ela colaborou com horas felizes que minha geração passou em frente à TV. E, durante a temporada, foi um prazer, checar o camarim, comprar o chá e deixá-la sozinha no seu espaço, iniciando relax, maquiagem e rituais que antecipavam seu prazer maior de estar em cena.
Procurei alguma foto ou programa do espetáculo e vi que não guardei nada... Mas, tenho bem gravados na memória os olhos vivos da DircEmília. Que bom que tenho memória e, que bom ter declarado a ela meu carinho e ter trocado meu aplauso da infância pelo cuidado adulto com esta atriz tão querida, que hoje sai da vida, tal qual o fantasminha interpretado no teleatro de uma extinta TV.

E, pluft! Lá se vai o ser humano que encheu de vida a boneca de pano.

3 comentários:

  1. ÊÊÊÊÊÊEîiiiiaaaaaaaaa, já não era sem tempo, vc contar as suas histórias num canto virtual! Coletivizar seus maravilhosos ditos. Adoreeei te ver aqui!
    Uma pena mesmo perdermos Dirce, mas, olha, a Emília da minha infância foi a que veio depois dela: a de olhos mais expressivos de todas. Nossa, amava!
    Olha, vida longuíssima pra isso aqui, viu? Eu passarei sempre!

    Beijocas

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  2. Olá Sissi!
    Como se não bastasse o privilégio de poder papear com você durante o meu período de trabalho, agora terei a honra de desfrutar dos seus escritos, tão inteligentes, leves e profundos, no momento eu que eu quiser.
    Parabéns e obrigado por brindar a todos com o seu carisma!
    Muito axé pra você, crioula!
    Daniel

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  3. "De uma caixa de costura, pano, linha e agulha" Eu não perdia o sítio do pica-pau amarelo naquela nossa saudosa época. Tudo me fascinava e me encatava. Gostei dessa tessitura!

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