A prática mostrou que as referências bibliográficas se transformam em pontos da cartografia dessa cidade que conta sua história a cada esquina, praça e muro grafitado.
O burburinho de vendedores e taxistas transforma a chegada em ruidosa festa. Estou em África, estou feliz
com essa viagem oportuna por terras que me permitem ler além da literatura.
Circular por Dacar requer diálogo. A arte da negociação é exigida a c
Para o turista, Dacar é assim: pimenta nos olhos, sem refresco. Muitas cenas disputando atenção. Aliás, gastronomicamente, falando, pimenta está até no refresco de gengibre que acompanha refeições igualmente picantes. E lá se foram dez dias temperados por novos saberes, aquecidos pelo café Touba e regados a muitos Bissaps e Ananás. 
Mas, nada disso foi tão ardente quanto passar pela ilha da Gorée, onde se sente na pele o frio que assolava aqueles que esperavam a travessia na condição de escravo. O vento canta triste em frente aquele mar bonito, cujas àguas geladas sepultaram tantos corpos impróprios para a escravidão. Cada canto da "maison des esclaves" faz o olho marejar. O frio é fato, o passado é feio e as correntes expostas ainda possuem elos resistentes.
A memória registrada na Gorèe é forte e contrasta com as cores vivas usadas nos casarios, no artesanato e nos souvenirs vendidos por lá e que representam a capacidade dos habitantes em produzir beleza. No discurso de alguns moradores, é tempo produzir outra imagem para a ilha, superando o passado, dissociando o local dos fatos sombrios e esquecendo as mágoas e marcas provocadas por um passado inesquecível.
Regressar do Senegal é trazer na bagagem muito pano para manga, roupas, textos e diálogos que ajudem a (re)conhecer partes da história africana, a partir dos quais podemos coser a retaliada história da diáspora negra.
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