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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Paixão (des)torcida



Conhecemos ontem o campeão brasileiro e, lendo os jornais de hoje, digo que nada como um dia após o outro pra constatar que vivemos tempos estranhos nos quais o futebol é paixão e torcer é agressão...

Parece que a conjugação de torcida e vibração descambou para a inevitável agressão praticada por uma galera que sai de casa com o alvo incerto, sabendo apenas que para se divertir, é certo agredir.

Tá certo, admito que não dá para generalizar! Neste domingo passei pela Tijuca. Pais, filhos, amantes, enfim, transeuntes, vindos sei lá de onde. Sei apenas que vinham cedo, pois, era manhã e as ruas já estavam apinhadas de uma gente que emana a energia de quem anima a vida com essa adrenalina de torcer, correndo o risco de perder e arriscando coração e garganta para empurrar seu time para vencer.

Ares daquela “alma encantadora das ruas” registrada pelo atento João do Rio. Eu que nem torço, confesso ter ficado comovida com o poder anestésico da bola rolando e a grana entrando nos bolsos de imperadores e pets. Quanta mobilização em jogo ou, como se mobilizam tantos para curtir aqueles curtos noventa minutos...
Veio o jogo e, já distante, vi os torcedores pela TV. O show na platéia é massa mesmo, no campo nem tanto... Mas, segue o primeiro tempo. Lá vão eles, em campo, tocando a bola como quem chuta para longe os problemas dos que torcem e retorcem na dureza do concreto da arquibancada e da vida de quem não é, nem ganha, como celebridade.

Sei que eles, fora de campo, ganham algo de muito bom com o exercício de torcer. São generosos, nem se importam em ser parte não remunerada do jogo. Fazem por paixão. Então deve ser por isso que temos torcedores passionais demais, ao ponto de serem irracionais.
Termina o primeiro tempo. Empate no Sudeste, vitória do líder no Sul. Já começo a temer pelo tipo de torção que pode rolar no Maraca...

Rola a bola novamente. Segundo tempo, segundas intenções na cabeça de jogadores e torcedores. Como já viram que estou mais atenta aos lances da platéia, após esses muitos minutos já estou pensando na reação do novo “protótipo” de torcedor organizado e brasileiro. Céus, essa “config” não podia mesmo dar certo. rss
Para essa brava (e bota brava nisso) gente, a ordem é comemorar. E o que é comemorar dentro dessa nova ordem que nos guia, os jornais mostram nesta segunda: Festa do hexa do Flamengo deixa dois mortos no Rio.

Com tristeza e sem surpresa, vi que real ou surrealmente, nesse modo de diversão/comemoração se torce até vir a dor, que pode ser do juiz, dos torcedores do outro time, do mesmo time ou, até mesmo, de algum membro da equipe do coração...

E, na prorrogação da vida que se vive após cada parada pro jogo, a ordem é (h)exagerar, torcer a razão e distorcer alguma coisa que um dia foi paixão!

8 comentários:

  1. Querida Simone,

    Faço parte dessa massa vibrante de torcedores. Estive andando pela Tijuca, como marido e filho, em direção ao Maraca logo pela manhã. Bandeira enrolada pelo corpo, camisa oficial, emoção total! Uma alegria em tempos tão difíceis, um colírio para os olhos! Morre-se diariamente nesse Rio de Janeiro, infelizmente, e os números são alarmantes! Mata-se por um relógio, um celular, um carro. Lamentável que duas pessoas tenham morrido, mas não é culpa do futebol, muito menos de uma uma torcida que chega a atingir "milhões". Vi uma festa familiar e pacífica pelas ruas e no próprio Maracanã. Vi crianças, jovens, idosos, todos descontroladamente embalados por uma emoção sem igual!
    E que Pets, Adrianos, Davids e Angelims continuem nos dano muitas alegrias! Que outros jogadores façam a alegrias das torcidas tricolor, botafoguense e vascaína. Que a Segurança pública faça a sua parte diariamente no Rio de Janeiro, estamos precisando!
    O jogo não foi tão bom, é verdade, mas se tivesse assistido todo o Brasileirão, teria visto jogadas sensacionais! Uma arte! Bem diferente do que se mostra nas galerias, nas livrarias, nas Academias, mas que encantam uma massa! Nenhum poema é capaz de emocionar uma multidão quanto uma bela jogada de futebol, melhor dizendo, quanto um suado e merecido título conquistado! Um HEXA(gero)! Não tinha como ser diferente! EMOÇÃO TOTAL SER DA NAÇÃO!!!!
    Beijo grande,
    Gleice

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  2. Gleice, querida,

    Saudações!! Nada como uma provocação para motivar um torcedor rsss

    Gosto de vê-los torcer, como está declarado no post que nasceu após observar o antes, o durante e o depois de uma festa que não era minha, mas, era de uma considerável multidão.

    Viva o encantamento. Ele é válido e necessário, venha de onde vier.

    A bola fora em questão é a banalização que não é exclusiva do futebol que não tem culpa meesmo, afinal, como bem disse Ed Motta: o mundo é fabuloso (e redondo), ser humano é que não tá (se organizando para torcer) legal.

    Valeu a passagem por ak, Sra. Luz!!!

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  3. Você está certíssima. è tudo ensandecido demais. Essa loucura é também uma das marcas do nacionalismo, como bem sabemos, né, estudiosa cultural?!?! Nacionalismo, Patriotismo e futebol no Brasil se fundem com todos os estereótipos que nos têm constituído enquanto nação. Mas... que mal lhe pergunte, vc é flamenguista mesmo? rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

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  4. Olá, Sista,

    faço parte dessa NAÇÃO, como aquela que vibra por todos os belos lances, sem torcer por time algum. Boa nacionalista que sou, curto as equipes que vestem a camisa da seleção, no mais, assisto a festa alheia e me entristeço com as desventuras e desmedidas causadas em nome da mesma.

    Valeu a visita!!!

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  5. Oi Si... Adorei sua observação sobre o hexagero no torcer... torcer para o time vencer, torcer a garrafa de cerveja para aproveitar até a última gota. E quando o álcool subir para a cabeça, quem sabe, torcer o pescoço de alguém ou dar umas pauladas só pra se divertir...rsrsrs
    Abraços,
    Jupiaci

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  6. Olá, Jupiaci,

    boa sacada a do (h)exagero na birita. Complemento dizendo que distorce a visão rss
    Fico na torcida para que esse quadro "passional-etílico" comece a mudar e com ele mudem as posturas privadas para divertir-se em grupo.
    Valeu a visita, professor!!!

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  7. oi, Simone,
    ontem, fazendo unha num salão, uma senhora falava da sobrinha que fez plantão no Carlos Chagas domingo e estava impressionada com o aumento de vítimas da violência por causa do jogo.. é triste todo esse exagero, realmente.. desde pequena gosto de futebol e tenho prazer em assistir uma bela partida, independente do time, como também torcer pelo Flamengo.. mas há muito o futebol tem me mostrado uma face grotesca: a violência, o preconceito, a falta de ética, a corrupção..
    espero dias melhores..
    beijos!! e parabéns pelo blog, pela escrita reflexiva com suas belas tiradas simonais..

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  8. Olá,

    o post tomou corpo naquela nossa conversa de fim de domingo e campeonato. Para o próximo campeonato, copa e olimpíada, vamos torcer e, tentar refetir/agir, para mais diversão e menos torção!

    rsimonais

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