Reunidos
pelo evento Poeme-se, autores e público presentes ao espaço cultural da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro celebraram o dia nacional da poesia com
falas sobre o fazer poético, declamações e uma breve homenagem ao poeta
performático Éricson Pires.
A
abertura contou com os poetas Clauky
Boom (Poeta e coordenadora do movimento Por um Rio Capital da Poesia); Daniel Rolim Rocha (professor na Casa Poema); Thereza Christina Rocque
da Motta (Editora Ibis Libris, coordena o Sarau Ponte de Versos/RJ); Otávio Júnior - Livreiro do Alemão (idealizador e
realizador do projeto Ler é 10 – Leia Favela/RJ) e Marina Mara (poeta
multimídia idealizadora do Sarau Sanitário, Declame para Drummond, Parada
Poética RJ / DF).
A seguir, conversa moderada
por Écio Salles (FLUP) reuniu João Corujão e Sergio Vaz que resumiram suas
trajetórias iniciadas na periferia e, em muitos pontos, semelhantes ao percurso
de Carolina Maria de Jesus e Abdias do Nascimento, ambos nascidos neste dia 14
de março e implicados com as dificuldades editorais enfrentadas por todos os
autores e enfatizadas naqueles oriundos de famílias pobres.
Amparado
em sua figura carismática e bom humor, João Luiz de Souza contou como sarau e
poesia tornaram-se responsáveis por episódios de protagonismo vivenciados por
ele a partir dos 10 anos, quando organizou seu primeiro sarau. Com admiração, o
público ouviu o autor e assessor cultural conhecido como João do Corujão
relatar a vasta experiência profissional, que reúne passagem pela equipe de
Darcy Ribeiro, durante o processo de implementação dos CIEPs. Como
desdobramento deste trabalho, ingressou na animação cultural, realizando
atividades culturais em escolas de Santa Cruz, onde iniciou um Sarau na
conhecida e carente comunidade de Antares. Tempos depois, o trabalho com a
poesia passou a ser realizado em São Gonçalo, onde permanece ativo e promovendo
circulação e fruição de cultura em outra parte da periferia carioca.
Ao
iniciar sua fala, Sergio Vaz deixou claro que faz parte desta cultura que
movimenta a periferia. Descrevendo o território que habitava ao nascer, onde o
livro e leitura eram preteridos e estigmatizados, o agitador cultural aponta
uma relação que vai sendo transformada pelo movimento dos saraus. A transformação foi vivida na pela por Vaz,
para quem a escrita foi uma descoberta da vida adulta, momento de mergulho em
obras literárias, produção de textos e promoção de ações destinadas a
interferir na vida de pessoas distanciadas de atividades culturais e
confrontadas com duros índices de violência. Organizador do Sarau da Cooperifa,
um dos mais destacados na mídia, Vaz argumentou que o maior sucesso do sarau é
local e consiste na formação de novos leitores na periferia.
Fechando
a conversa, Écio Salles citou atividades responsáveis por uma necessária
dessacralização da poesia e literatura, destacando a doação de livros conhecida
como libertar livros e a revoada de balões, práticas adotadas no Sarau da
Cooperifa para despertar o interesse pela leitura e garantir o acesso ao livro.
Antes
do aplauso final, poetas presentes na plateia falaram de seus trabalhos
realizados no interior de trens, nas ruas e nos mais diversos cenários da
cidade que abriga o movimento Rio Capital da Poesia. O que se viu e ouviu
nesta noite foi uma mínima parte do vasto capital de poesia que circula nos
livros, folhetos, camisetas, muros e muito outros espaços que ganham força na
cultura carioca.