KIAFUNHATA

imagens da vida e da arte

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial Contra a Discriminação Racial - 21 de março


Discriminados e acuados, grande número de afro-brasileiros vive de acordo com as mínimas condições reservadas a eles pelo imaginário e prática social.

Para sair dessa e partir melhor o bolo, dois insights de Malcon X:

1. "Não há capitalismo sem racismo", assim falou (e disse) Malcon X. Então, povo preto e branco que forma a raça humana regida por esse sistema, não dá para fugir dessa realidade.

Cá entre nós e nossas piadas, nossos poucos profissionais negros qualificados, nossos fartos trabalhores braçais negros, os efeitos da exclusão são visíveis em terra brasileiras, e como filhos da terrinha não dá para fugir dessa luta por mudança nesse quadro.

Então é com a gente. A gente que ri, reforçando a discriminação sem sentir. A gente que consente quando associa o melhor "perfil" e padrão de beleza à imagem do branco.

Definitivamente, o desafio, de mudar essa história que naturalizou a exclusão, só é assumido quando deixamos de achar naturais as discriminações veladas presentes nas atitudes nossas de cada dia, afinal:

2. "As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram as que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos."

Malcolm x

sábado, 20 de março de 2010

Arremesso do apagador acende nossa dor.

Uma das notícias da semana foi o arremesso de um apagador no rosto de aluna da rede pública.

http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1534720-5606,00.html


Todas as vozes erguidas pelo direito da estudante, faço coro com elas. No entanto, encaro esse vôo do objeto identificado como cena que simboliza o estado insano que vai tomando forma cada vez mais concreta nas salas de aula do país.
Minha experiência docente registra passagens curtas por salas do ensino fundamental da rede pública, ensino médio e superior da rede particular. Nesses diferentes segmentos e espaços da educação carioca estava presente o desrespeito ao professor. O que, em alguns casos esgarça ao máximo a pressão psicológica cada vez mais exigida do domador-educador lançado nessa arena onde o poder da moçada vai fazendo calar o saber do profissional.

Como bem cantou o poeta maior aqui da nossa banda, a dor da gente não sai no jornal... É muito doloroso esse nosso quadro de onde foram apagadas lições básicas de respeito ao aluno, ao professor, à criança, ao mais velho, ao profissional, enfim, ao ser humano. Por isso a notícia doeu e eu calei.
Eis que hoje, sábado de sol, dia de estréia do som novo, pus para rodar um samba como quem faz uma oração ao bom astral. Ah, e quem vive sem algum ópio nessa droga de vida? Mas, então, nessa onda de tirar a poeira musical do ar, vem dona Leci Brandão cantar sua composição que eu certamente já ouvi outras vezes, mas que hoje tocou fundo. E eu assim nessa dor da escrita, chorando à toa rs Chorei ao som do samba- exaltação, pela dor das meninas e dos meninos, hoje professores, que um dia sonharam ensinar e chegaram nessa rotina de pesadelo. E pelos nossos “guris “ que precisam aprender a aprender para saber algo melhor sobre viver.

Abaixo um manifesto da Leci, do qual assino em baixo. Não como um discurso de vitimização do professor, mas como um pedido de atenção para todos os elementos que vem desconstruindo a escola como lugar de fortalecimento das qualidades dos cidadãos que lá ensinam e aprendem:
“No momento em que o país decidir investir de verdade na educação, todos os nossos problemas serão resolvidos, tudo parte da educação. Respeitem os professores, dando-lhes condições dignas de sobrevivência. Que Deus proteja nossos anjos da guarda.”

Seguem a letra dessa professora de samba engajado e o link para conferirem o som, imagem e luz dela!

http://www.youtube.com/watch?v=MZp2F92js5U



ANJOS DA GUARDA (Leci Brandão)

Professores
Protetores das crianças do meu país
Eu queria, gostaria
De um discurso bem mais feliz
Porque tudo é educação
É matéria de todo o tempo
Ensinem a quem sabe tudo
A entregar o conhecimento

Na sala de aula
É que se forma um cidadão
Na sala de aula
Que se muda uma nação
Na sala de aula
Não há idade, nem cor
Por isso aceite e respeite
O meu professor
Batam palmas pra ele
Que ele merece...

domingo, 7 de março de 2010

A luci(n)dez de Elisas, Anas, Carolinas, Aldas e tantas operárias.

Era uma vez, um grupo de operárias novaiorquinas que recebia 1/3 a menos que o salário masculino e trabalhava 16 horas diárias. Precisavam ganhar mais e trabalhar menos. Resolveram protestar por uma jornada de 10 horas e, em 8 de março de 1857, centro e trinta trabalhadoras protestavam no interior da fábrica, quando um incêndio pôs fim aquelas vidas e suas modestas reinvindicações. Para que essa história não fosse esquecida, em 1910, outro grupo de mulheres instituiu o dia 08 de março como dia Internacional da Mulher.

E assim são criadas as datas, com a melhor das intenções. Mas, um século depois, sob o efeito showbiz com o qual pretendem transformar a vida em festa glamurosa, virou festa esse dia.

Dia que rende comemorações no mundo inteiro. Festa da mídia empenhada em lembrar a todos das lingeries, chocolates e jóias que não devem ser esquecidas nessa data que confirma a importância da perfumaria para a existência feminina.
Decididamente, os tempos modernos dispersaram as cinzas que traziam a lembrança dessa data como momento de reafirmar direitos e medidas que possibilitem um cotidiano em que a condição feminina possa ser admirada, dispensando esse dia cenográfico em que flores e sorrisos são incorporados aos protocolos oficiais de homenagem.

Mas, nessa lógica que move o mundo, cabe aplicar a velha lógica machista que predomina sobre a vida feminina: ruim com ele, pior sem ele...



Eu me rendo: que venha mais esse dia! Nele fabricaremos mais doses da resistência queimada na fábrica para dar conta da rotina hard do século XXI, na qual triplicamos a jornada para escapar da história comum à maioria das mulheres que, dentro dos estabelecimentos espalhados pelo mundo, trabalha tanto e ganha tão mal quanto as operárias do passado.

Antecipando a festa, um jornal diz que “a beleza acústica e rítmica da pandeireta de Ana Carolina” já comemorou a data em Luanda, onde há também o dia da mulher angolana. "É isso aí", nessas bandas onde toda sexta-feira é dia “do homem” e do vale tudo masculino, o esforço para fazer crer no valor feminino é duplo.

Toda mulher gosta de rosas, canta a moça da pandeireta, mas, não bastam as flores e a música para mulheres que tem conhecido apenas espinhos e ruídos de um cotidiano privado da leitura, da escrita e calcado apenas na arte de sobreviver sem arte, sem pão, sem teto, lutando sempre para escrever uma história para os muitos que dela descendem e dependem.

Que em todos os cantos e em todos os dias vinguem os eventos que potencializem a qualidade dos seres humanos, minimizando o ato de resistência exigido da mulher.
Dedico minhas palavras às mulheres que não podem lê-las. As que lerem indico as palavras de Alda Lara, Carolina Maria de Jesus, Alda Espírito Santo, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro e Elisa Lucinda, operárias da escrita, cuja lucidez nos deu obras literárias que refletem o existir, resistir e produzir próprios ao ser feminino em nosso mundo.